Há não sei mais se uma contradição. Talvez seja algo como um objeto de cerâmica que cai e que se quebra em diversas partes. Essas partes não se fragmentam, mas se mantém coladas por um esmalte já meio velho e gosmento, e esse objeto continua a exisitir no mundo, carregando suas partes decaídas.

O ponto é que eu queria que não existisse mais a minha biografia. Ou que não existisse mais o que minha biografia gerou – que meu campo de ação (ou meu modo mesmo de agir) se extinguisse. O ponto é que havia uma intervenção militar, durante todo o tempo.

Acontece de haver a indústria armamentícia. E a produção incessante de imagens. E a Rosie The Riveter que, segundo canta a canção, trabalhou nas linhas de montagem de tanques, mísseis e objetos afins, enquanto Charlie, seu namorado da marinha, atirava umas tantas bombas. E ela era gata. E sua imagem de macacão azul e bandana vermelha foi estampada em campanhas publicitárias do governo junto à frase “We Can Do It”, para que as mulheres finalmente aderissem às fábricas, graças à guerra.

E tinha isso de eu estar ali, entre tão poucos, sem sinal de wi-fi. Os anúncios publicitários não existiam mais. Nem os palanques. Haviam umas tantas pedras, umas cadeiras velhas, uns ferros sem função definida. O que, afinal, não seria uma arma?

aqui é sempre outro lugar | ação
imagens selecionadas do youtube em uma tv. narrativas descontextualizadas em uma tela led. um corpo manipula uns tantos objetos.

(fotos: Leonardo Avelino)


todo treinamento é uma hipnose | vídeo
mão joga uma pedra presa ao teto por um barbante. cabeça esquiva da pedra ritmicamente.


o assassinato é um trabalho ou ela deveria saber quando parar | vídeo
com o cabo de uma enxada, ela bate em um saco de estopa com 20kg de farinha.


cólera ou o jeito mais idiota de conseguir o óbvio | vídeo
mão soca uma mesa com pedras até que uma caia.


artilharia | vídeo
mão empunha 27 pedras. uma por vez.

carolinanobrega.com