entre dois

A ideia do projeto era criar uma ação em que a interação com o espaço fosse relevante e que a continuidade dela dependesse de uma negociação feita entre os participantes ao longo do trajeto.

No trabalho, duas pessoas acompanham o curso de um rio, sem falar, carregando um bambu que ajuda a manter em equilíbrio um balde cheio de água.

A performance gera uma situação em que a permanência da água dentro do balde depende do acordo entre os integrantes; a ação fala sobre a incidência das decisões de uma pessoa refletindo-se no percurso da outra e no ambiente em que se inserem. Trata-se de conseguir o equilíbrio entre duas partes por meio de uma negociação determinada por distintos elementos, incluindo a geografia do lugar.

A maior parte do meu trabalho gira entorno das construções das cidades, e nesse último ano em que passei a viver na Cidade do México, tenho me interessado mais pela performance e sobre como a formação cultural do lugar atravessa a maneira como nosso corpo se move. Este processo passa pela história, pelo clima, a topografia e também pelas estruturas da cidade, os planos urbanísticos, suas adaptações e os aparatos contidos nela que tentam conduzir os nossos movimentos.

Didi Huberman é um autor que fala da importância dos movimentos, dos gestos. Por exemplo, mesmo que você esteja numa situação de submissão, o seu corpo pode dizer “não” sem que você tenha decidido isso. Ele fala que os gestos têm algo de inconsciente, que um braço que se levanta pode ser um ato político. Atrás dos gestos de alguém aparece muito da história daquele corpo.

A minha vontade de fazer esse trabalho passa pelo interesse em pensar os efeitos da nossa experiência nos movimentos, e a consequência disso na relação com as pessoas e com os lugares em que nos movemos.

Sara Lambranho, nasceu em 1983 em Santo André, vive entre Brasil e México. Seus trabalhos trafegam entre diferentes linguagens como o desenho, vídeo, fotografia e instalações sonoras. Graduada em artes na Universidade Estadual de Minas Gerais, técnica em artes gráficas pela Escola Panamericana de Artes em São Paulo, cursa o mestrado em artes na Universidade Autónoma do México. Tem participado de residências como R.A.T Residências artísticas por intercâmbio (Cidade do México, 2016), Programa de residência artística da Fundação Joaquim Nabuco e Centro Cultural do Banco do Nordeste, (Fortaleza, 2015), exposições coletivas como SP Stampa (São Paulo, 2015), Todo mundo sabe que nossas cidades e corpos foram feitos para ser destruídos, Galeria Mônica Filgueiras (São Paulo, 2013), Escavar o Futuro, Palácio das artes (Belo Horizonte, 2013), Through the surface of the pages, Harvard University (Cambrige, 2012) e individuais como Trato, Palácio das Artes (Belo Horizonte, 2013) e Réquiem; exposição individual, Centro Cultural UFMG (Belo Horizonte, 2012).

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